Aconteceu o I Parangolé da Cultura na Universidade… e foi sobre o Carnaval

Convidados e mediadores do I Parangolé

“Apesar de sermos o país do carnaval, [o Brasil] é um país que conversa muito pouco entre si sobre os carnavais. A referência Brasil é sempre feita a partir de gestos criativos, gestos simbólicos, gestos culturais. É o passista da escola de samba, é o carnaval, é o drible do futebol. É bom ser reconhecido no mundo pelos gestos de alegria, ainda que no momento a gente ofereça ao mundo tantos gestos de tristeza e de desrespeito pela vida. Mas lá no fundo, eles sabem que a nossa capacidade de fazer alegria é muito maior do que a capacidade de alguns de fazer morte e miséria.
Lembro aqui Jorge Amado: ‘a nossa alegria é maior do que a nossa miséria’. E é verdade, o carnaval expressa isso – como é possível alguém que experimenta uma desigualdade brutal durante todo ano abrir um largo sorriso, sambar, cantar e se entregar completamente à alegria durante 3 dias? Essa pessoa não vai esquecer a miséria, não, que ela não é boba de perder a oportunidade de ser alegre.”

“Uma escola de samba não existe para desfilar. Ela desfila porque existe.
É importante perceber como as pessoas que foram de alguma maneira excluídas do processo institucional brasileiro tiveram que construir nas brechas, nas frestas, nas rachaduras desse muro institucional as suas formas de sociabilidade, suas redes de proteção social, suas formas de construir incessantemente identidade e sentido de mundo. E o carnaval é um terreno fértil pra gente perceber como esse tipo de coisa aconteceu.”

“Se de um lado a gente tem o carnaval de avenida que dá glamourização a um povo que é tão sofrido, tão afastado da sociedade e bens sociais, numa outra ponta temos o carnaval de rua que domina o espaço público, mistura todo mundo e dá liberdade ao ser.”

“Se tem uma palavra que caminha junto com a escola de samba, é resistência. Pela origem, isso tem a ver com a própria democracia porque tem a ver com a apropriação do espaço público.
Se você não entende o ocupar a rua pra brincar como legítimo, você também não vai entender como legítimo ocupar a rua pra se posicionar politicamente, pra cobrar o reconhecimento dos seus direitos.”

Essas foram algumas falas que permearam o primeiro Parangolé de 2021.
O evento contou com a participação dos 9 convidados, dos mais de 100 perguntadores inscritos e dos 63 presentes na sala virtual; contribuições importantes para se pensar o carnaval no Brasil, afinal “o carnaval é a expressão da vitalidade brasileira e merece cuidado e respeito” (Paulo César Miguez).

A gravação do evento está disponível na íntegra nas redes do CCJE: YouTube e Facebook.

– Letícia Paixão/Bolsista da Coordenação de Atividades Culturais